quinta-feira, 19 de março de 2009
"Então, passeando excitado pelo quarto, levava as suas acusações mais longe, contra o Celibato e a Igreja: porque proibia ela aos seus sacerdotes, homens vivendo entre homens, a satisfação mais natural, que até têm os animais? Quem imagina que desde que um velho bispo diz - serás casto - a um homem novo e forte, o seu sangue vai subitamente esfriar-se? E que uma palavra latina - accedo - dita a tremer pelo seminarista assustado, será o bastante para conter para sempre a rebelião formidável do corpo? E quem inventou isso? Um concílio de bispos decrépitos, vindos do fundo dos seus claustros, da paz das suas escolas, mirrados como pergaminhos, inúteis como eunucos! Que sabiam eles da Natureza e das suas tentações? Que viessem ali duas, três horas para o pé da Ameliazinha, e veriam, sob a sua capa de santidade, começar a revoltar-se-lhes o desejo! Tudo se ilude e se evita, menos o amor! E se ele é fatal, porque impediram então que o padre o sinta, o realize com pureza e com dignidade? É melhor talvez que o vá procurar pelas vielas obscenas!
Porque a carne é fraca!"
Eça de Queirós, 'O Crime do Padre Amaro'
sexta-feira, 6 de março de 2009
...fecha os olhos...
...INSPIRA...
...EXPIRA e sente todo o teu corpo...
...IMAGINA o teu nu, coberto em veludo...
...espreita por UMA JANELA de portas brancas...
...uma janela A ABRIR, onde lá fora...
...o sangue...
...escorre...
...olha NO HORIZONTE os teus pulsos...
...atados em fitas de cetim...
...PARA onde queres ir?...
...queres DESAPARECER...
...despertar num deserto...
...a tua pele branca reflecte o brilho do sol...
...respira fundo!...
...NOVAMENTE...
...corre...
...até parares de respirar!...
...sonha com um lago no deserto...
...onde o teu corpo se move...
...COMO O SILÊNCIO DE UMA SERPENTE...
...agora...
...ABRE OS OLHOS E DIZ-ME!...
...O QUE VÊS?...
terça-feira, 3 de março de 2009
“ O Homem outrora meio príncipe, hoje meio lacaio, vive em interregno; possui apenas um corpo de regência ou de purgatório, a sua essência gloriosa dissipou-se, ela permanece no intervalo, desfolha imagens que não pode encarnar. Mas esta desgraça é também uma possibilidade: libertando-se dos códigos de virilidade, o erotismo masculino pode finalmente descobrir a sua própria policromia, abre-se a prazeres desconhecidos…”
(Em “A Nova Desordem Amorosa” de Pascal Bruckner e Alain Finkielkraut)
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